terça-feira, 30 de junho de 2015










MOÇÃO

Pelo direito a cuidados de saúde públicos para todos

Ao longo dos últimos tempos, têm-se sucedido as informações dando conta de enormes dificuldades sentidas no Serviço Nacional de Saúde (SNS), seja nos cuidados de saúde primários seja nos serviços hospitalares, designadamente nos serviço de urgência.

Esta é uma situação grave e que deixa a descoberto um conjunto de falácias que o discurso da austeridade tentou passar como verdade.
Não é verdade que seja possível desorçamentar o SNS e manter a sua qualidade de funcionamento.

Não é verdade que seja possível fazer mais com menos.

Não é verdade que se possa fomentar a precariedade no SNS, promover a contratação de empresas de trabalho temporário, recorrer a Contratos de Emprego Inserção (CEI) e (CEI+) descurando que tais medidas têm consequências nas equipas, na sua coesão, estabilidade e capacidade de trabalho.

Não é possível atrofiar os orçamentos hospitalares a ponto de se registar falta dos mais simples materiais (como luvas ou batas) ou terapêuticas mais caras (como medicamentos oncológicos ou biológicos) e considerar que isso não tem consequências.

As consequências existem e estão à vista: apesar do insuperável empenho dos profissionais do SNS, a qualidade do serviço está a degradar-se fundamental, portanto, implementar as acções necessárias a travar esta perda de qualidade, o que implica dotar o SNS do orçamento necessário ao seu funcionamento bem como assegurar a contratação pública dos profissionais em falta.

Essencial também é garantir o acesso de todos aos cuidados de saúde de que necessitam algo que é compatível apenas com a prestação pública de serviços de saúde. A entrega a terceiros da prestação total ou parcial de serviços de saúde não acautela a efectiva disponibilização desses serviços à população, deixando o SNS refém das opções de privados e/ou do sector social para o investimento a ser feito.

A passagem da gestão de uma unidade do SNS para outras entidades não é isenta de consequências, como aliás se tem constatado com exuberância no caso dos hospitais geridos em regime de Parceria Público Privada (PPP). Têm sucedido diversas inconformidades, como sejam a transferência de doentes para outras unidades hospitalares sem motivos clínicos que o justifiquem ou a desmarcação de cirurgias programadas por falta de anestesistas.

Um outro exemplo remete para a rede nacional de cuidados continuados integrados (RNCCI); por força das decisões dos sucessivos governos o desenvolvimento da rede encontra-se refém do sector social o que faz com que algumas regiões do país tenham um défice assinalável de camas no âmbito desta rede ou que outras localidades tenham unidade situadas em locais ermos e de difícil acesso.

Consideramos que o que é público deve ser gerido pelo público; o que é privado deve ser gerido pelo privado; o que é do sector social deve ser gerido pelo sector social. A promiscuidade na gestão traz benefícios para as entidades adjudicantes, mas em nada favorece o serviço público, a qualidade dos serviços, o acesso dos cidadãos ou a fluidez de articulação entre as diversas unidades do SNS.

Por todos estes motivos, discordamos de qualquer tentativa de municipalização de serviços do SNS: a prestação de respostas sociais às populações é um serviço importante dos municípios, mas a sua disponibilização não pode nem deve ser confundida com gestão municipalizada de serviços de saúde.
O concelho de Salvaterra de Magos apresenta particularidades da sua população que justificam respostas ajustadas, em especial na nossa população idosa. Todavia, a disponibilização destes serviços deve ocorrer no âmbito do SNS, garantido a articulação necessária com os cuidados de saúde primários e a rede hospitalar e assegurando que todas as pessoas inscritas nas unidades de saúde têm médico de família, horários de atendimento compatíveis e acesso aos cuidados de saúde de que necessitam e aos quais têm direito.

Pelo exposto, a reunião de câmara reunida em 30 de Junho de 2015, delibera:

  1. Exigir ao Governo adequada orçamentação do SNS que garanta a contratação pública de trabalhadores que exercem funções no SNS, assegurando a manutenção na esfera pública da disponibilização de cuidados de saúde no âmbito do SNS;
  2. Exigir uma política de saúde pública que garanta médico de família a todas as pessoas inscritas nas unidades de cuidados de saúde primários;
  3. Rejeitar a privatização do SNS bem como a municipalização.
  4. Remeter esta deliberação aos órgãos de soberania e aos grupos parlamentares representados na Assembleia da República, Assembleia Municipal, Juntas de Freguesia e União de Freguesias do Concelho e comunicação social.


Os Vereadores do Bloco de Esquerda


Salvaterra de Magos, 30 Junho de 2015


Aprovada por unanimidade

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